Certo dia, o sujeito acorda se sentindo estranho. Tem um pouco de febre, uma dor de cabeça, talvez uma falta de apetite. Pode ser qualquer coisa. Passados uns dias, uma súbita ansiedade toma o doente. Dores pelo corpo e convulsões. A febre aumenta, e ele se torna agressivo. É quando aparece o sintoma inconfundível: um pavor incompreensível de água. É a hidrofobia. Não pode nem ficar perto de um copo d´água que o terror o domina. A essa altura, a garganta sofre espasmos e a pessoa emite gritos que mais parecem ganidos e uivos. Não há mais dúvidas, é a raiva. Quando os sintomas chegam a esse ponto, nada mais pode ser feito: em poucos dias, a morte - dolorosa, agonizante - é certa, em quase 100% dos casos.
Se a descrição acima parece história de terror, é porque ela realmente é. A raiva tem sintomas tão assustadores porque mata de forma diferente da maioria das doenças neurológicas, que costumam destruir os neurônios. O lyssavirus (que vem do grego lykos: lobo) atinge os neurotransmissores, a comunicação do sistema nervoso. Depois da contaminação, caminha cerca de 1 cm por dia da ferida em direção ao cérebro e lá, por meio de um mecanismo chamado excitotoxicidade, faz com que as células nervosas gastem toda a sua energia e morram de exaustão. Aos poucos, as funções automáticas param de funcionar, e a morte acontece por parada cardíaca ou respiratória. História de terror das piores.
Por muitos séculos, a raiva foi a única doença visivelmente transmitida por animais - sempre mamíferos (principalmente cachorros e morcegos) e sempre por mordidas. "O vírus da raiva evoluiu para viver no cachorro, e o cachorro evoluiu para coexistir com o homem. Isso fez com que a doença se espalhasse", escrevem Bill Wasik e Monica Murphy em Rabid: A Cultural History of the Worlds Most Diabolical Virus ("Raiva: uma história cultural do vírus mais diabólico do mundo"). Hoje, a raiva está controlada: são 55 mil casos em humanos ao ano, de acordo com a OMS, quase todos na Ásia e África. Mesmo no Brasil, a doença é raríssima: no ano passado, foram apenas cinco casos. Tudo graças à vacina. "Hoje o principal risco é o contato com animais silvestres, que aumentou por causa do ecoturismo", diz Jarbas Barbosa, secretário nacional de Vigilância em Saúde.
Os mistérios sobrenaturais que envolviam a doença só foram dissipados quando uma celebridade do mundo científico voltou suas atenções para ela: Louis Pasteur. Ele pesquisou a raiva justamente porque se tratava da "mais assustadora e mortal das doenças". Sua vacina consistia em 21 dolorosas injeções na barriga, que continham cada vez uma versão mais enfraquecida do lyssavirus. O método de Pasteur foi aperfeiçoado e é usado até hoje: atualmente bastam quatro vacinas no braço. Foi essa simples solução que praticamente eliminou a doença.
Por isso, quando o pediatra Rodney Willoughby recebeu uma ligação em seu consultório em Milwaukee, nos EUA, informando-o de que iria receber uma paciente com os sintomas de raiva, ele não acreditou. Afinal, apesar de seus mais de 20 anos de experiência, só conhecia casos da doença pelos livros. Mas os exames realizados na paciente, uma adolescente de 15 anos chamada Jeanna Giese, confirmaram: era mesmo raiva.
Quatro semanas antes, Jeanna estava na igreja de sua comunidade, quando um morcego invadiu a capela e a mordeu. Ela sequer sentiu. Quando os sintomas apareceram, já era tarde. A vacina é eficiente em quase todos os casos, mas apenas se tomada nos primeiros dias após a infecção. Se o vírus da raiva atingir o cérebro antes, o índice de fatalidade é praticamente 100%. O dr. Willoughby sabia que o procedimento normal nesses casos era sedar o paciente e esperar a morte. Mas ele não se conformou a isso.
O médico também sabia que o corpo reage naturalmente ao vírus da raiva. O problema é que ele engana o nosso sistema imunológico. A maioria das doenças avança pela corrente sanguínea: é o caminho mais rápido, e também mais protegido pelo sistema imunológico. Mas o lyssavirus se espalha pelos neurotransmissores e, assim, chega ao cérebro antes das nossas defesas naturais. Foi então que o dr. Willoughby teve uma ideia. Vencer o vírus da raiva pela paciência: era preciso dar ao organismo tempo para ele organizar suas defesas. O plano nunca havia sido testado, mas a ideia consistia em induzir a menina ao coma, baixando as funções corporais e cerebrais ao mínimo possível. Assim, seu corpo poderia se preocupar com uma só coisa: gerar defesas. A equipe usou quetamina, um poderoso anestésico e alucinógeno, com a retrovirais e sedativos barbitúricos.
Para surpresa de todos, a estratégia deu certo. Quando saiu do hospital, no dia 1º de janeiro de 2005, Jeanna estava completamente curada. A notícia do primeiro registro de cura da raiva se espalhou pelo mundo. A equipe responsável elaborou um roteiro de atendimento que foi batizado de protocolo de Milwaukee. Desde então, cinco pessoas no mundo já foram curadas com procedimentos semelhantes - uma delas no Brasil.
O caso brasileiro aconteceu em 2008, quando o adolescente Marciano Menezes da Silva foi diagnosticado depois de ser mordido por um morcego na cidade de Floresta, no sertão de Pernambuco. O rapaz foi levado ao Recife e os médicos notaram os sintomas já desenvolvidos. "Tínhamos contato com o dr. Rodney, que fala português e é casado com uma pernambucana, e decidimos aplicar o protocolo de Milwaukee. Era a nossa melhor chance", explica o médico Vicente Vaz, infectologista que integrou a equipe que cuidou de Marciano. De fato, foi. O rapaz sobreviveu e se tornou o terceiro caso documentado de cura.
Nos animais isso repercute de forma diferente. Nenhum tratamento deverá ser tentado. Sobretudo não há registros de tentativas de tratamentos em contaminados.
Se o animal exposto ao vírus não é vacinado; em se tratando de animais abandonados, recomenda-se proceder a eutanásia, para coleta de material para diagnóstico laboratorial. Uma alternativa seria manter o animal suspeito sob quarentena de 6 meses, o que nem sempre é viável.
Se o animal exposto, tiver um proprietário e for anteriormente vacinado, recomenda-se o seu isolamento para observação clínica por 10 dias, após o que deverá ser revacinado.
Ou seja, a vacina contra a raiva é de extrema importância para garantia de sanidade do animal e consequentemente a nossa. Estudos contra a cura da raiva estão em aprimoramentos constantes, inclusive, a possibilidade destes serem aplicados a nossos queridos animais. No entanto, não há atalhos ou métodos que garantam melhor segurança quanto a este mal, a não ser: VACINAÇÃO.
As vacinas induzem altos títulos de anticorpos neutralizantes, aproximadamente entre 7 e 21 dias após a vacinação. A primeira vacina contra raiva é recomendada para cães e gatos a partir do quarto mês de vida. Para obtermos uma imunidade máxima é recomendável a adoção do esquema com revacinações anuais pelo médico veterinário.
SOBRE OS MORCEGOS
São os únicos mamíferos que voam, e saem a procura de alimentos ao entardecer e a noite. Vivem em média quinze anos e, a partir de dois anos, têm início a vida reprodutiva, com um período de gestação de dois a sete meses, de acordo com a espécie, gerando normalmente um filhote ao ano.
São os únicos mamíferos que voam, e saem a procura de alimentos ao entardecer e a noite. Vivem em média quinze anos e, a partir de dois anos, têm início a vida reprodutiva, com um período de gestação de dois a sete meses, de acordo com a espécie, gerando normalmente um filhote ao ano.
Desempenham papel importante na natureza: dispersão de sementes, polinização de flores e controle de população de animais, principalmente insetos.
Há mais de 1500 espécies e apenas 3 são hematófagas, alimentando-se exclusivamente de sangue e apenas uma, o Desmodus rotundus, tem preferência por sangue de mamíferos. Hábitos alimentares: a maioria se alimenta de insetos. Outras de frutos, néctar, polen, folhas, carnes, etc.
Nas cidades, os morcegos mais comuns são os insetívoros e os frugívoros, devido a grande oferta de alimentos e a presença de abrigos. Os abrigos mais utilizados pelos insetívoros são as edificações. A falta de conservação, falhas de construção e até detalhes arquitetônicos criados para embelezamento, acabam constituindo verdadeiras cavernas artificiais para alojá-los.
Dicas para evitar Incômodos e Acidentes:
- Verifique os espaços abertos de entrada e saída no abrigo.- Verifique os espaços abertos de entrada e saída no abrigo.- Após a saída dos animais ao anoitecer vede esse ponto provisoriamente (jornais amassados ou panos).- No dia seguinte, antes de escurecer, retire esta vedação para a saída dos animais que tenham eventualmente permanecido no abrigo, e feche novamente após a saída destes.- Faça esse procedimento durante 3 dias e então faça a vedação definitiva.
Nunca utilize venenos para desalojá-los. São animais silvestres protegidos por legislação ambiental.
Não toque em qualquer morcego, vivo ou morto. Em caso de contato procure a Secretaria de Saúde e informe.
São associados erroneamente a símbolos de terror, demônios, vampiros, mistério e antigas crenças. Não são "ratos velhos que criaram asas".
Caso se constate a presença de morcegos em edificações, procure orientação especializada e proceda da seguinte maneira:
- Feche esses espaços, deixando apenas uma saída.
Se um morcego adentrar sua residência, feche as portas que dão acesso as outras dependências da casa, deixem as janelas abertas para o animal tentar sair ou chame o Centro de Controle de Zoonoses, para realizar a captura.
SECRETARIA DE SAÚDE /
CENTRO DE CONTROLE DE ZOONOSES DE MARINGÁ:
(44)3218-3136 / (44)3901-1176
Fonte: "O Vírus da Raiva" matéria da revista Super Interessante junho 2013. Instruções publicas da Secretaria de Saúde.
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