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PESQUISA CIENTÍFICA COM ANIMAIS



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Há 20 anos, Ray Greek abandonou o consultório para convencer a comunidade científica de que a pesquisa com animais para fins médicos não faz sentido. Greek é autor de seis livros, nos quais, sem recorrer a argumentos éticos ou morais,  tenta explicar cientificamente como a sua posição se sustenta. Em 2003 escreveu Specious Science: Why Experiments on Animals Harm Humans (Ciência das Espécies: Por que Experimentos com Animais Prejudicam os Humanos, ainda não publicado no Brasil) e o mais recente em 2009: FAQs About the Use of Animals in Science: A Handbook for the Scientifically Perplexed (Perguntas e Respostas Sobre o Uso de Animais na Ciência: Um Manual Para os Cientificamente Perplexos). Ele garante que sua motivação não é salvar os animais, mas analisar dados científicos.  
Além disso, Greek uniu esforços com outros médicos americanos e fundou a Americans for Medical Advancement, uma organização sem fins lucrativos que advoga métodos alternativos ao modelo animal. Em entrevista para VEJA, ele diz porque, na opinião dele, a pesquisa com animais para o desenvolvimento de remédios não é necessária.
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O senhor seria cobaia de uma pesquisa que está desenvolvendo algum remédio?
Claro. Se a pesquisa estivesse sendo conduzida eticamente eu seria voluntário. Milhares de pessoas fazem isso todos os dias. Por vezes elas doam tecido para que possamos aprender mais sobre uma doença, em outros momentos ingerem novos remédios para o tratamento de doenças na esperança que a nova droga apresente alguma cura.

E se o medicamento nunca tivesse sido testado em animais?
A falácia nesse caso é de que devemos testar essas drogas primeiro em animais antes de testá-las em humanos. Testar em animais não nos dá informações sobre o que irá acontecer em humanos. Assim, você pode testar uma droga em um macaco, por exemplo, e talvez ele não sofra nenhum efeito colateral. Depois disso, o remédio é dado a seres humanos que podem morrer por causa dessa droga. Em alguns casos, macacos tomam um remédio que resultam em efeitos colaterais horríveis, mas são inofensivos em seres humanos. O meu argumento é que não interessa o que determinado remédio faz em camundongos, cães ou macacos, ele pode causar reações completamente diferentes em humanos. Então, os teste em animais não possuem valor preditivo. E se eles não têm valor preditivo, cientificamente falando, não faz sentido realizá-los.

Mas todos os remédios comercializados legalmente foram testados em animais antes de seres humanos. Este não é um caminho seguro?
Definitivamente não. As estatísticas sobre o assunto são diretas. Inclusive, muitos cientistas que experimentam com animais admitiram que eles não têm nenhum valor preditivo para humanos. Outros disseram que o valor preditivo é igual a uma disputa de cara ou coroa. A ciência médica exige um valor que seja de pelo menos 90%.

Esses remédios legalmente comercializados e que dependeram de pesquisas científicas com animais já salvaram milhões de vidas...
A indústria farmacêutica já divulgou que os remédios normalmente funcionam em 50% da população. É uma média. Algumas drogas funcionam em 10% da população, outras 80%. Mas isso tem a ver com a diferença entre os seres humanos. Então, nesse momento, não temos milhares de remédios que funcionam em todas as pessoas e são seguros. Na verdade, você tem remédios que não funcionam para algumas pessoas e ao mesmo tempo não são seguros para outras. A grande maioria dos remédios que existe no mercado são cópias de drogas que já existem, por isso já sabemos os efeitos sem precisar testar em animais. Outras drogas que foram descobertas na natureza e já são usadas por muitos anos foram testadas em animais apenas como um adendo. Além disso, muitos remédios que temos hoje foram testados em animais, falharam nos testes, mas as empresas decidiram comercializar assim mesmo e o remédio foi um sucesso. Então, a noção de que os remédios funcionam por causa de testes com animais é uma falácia.

Se isso fosse verdade os cientistas já teriam abandonado o modelo animal. Por que isso não aconteceu ainda? 
Porque o trabalho deles depende disso. Nos Estados Unidos, a maior parte da pesquisa médica é financiada pelo Instituto Nacional de Saúde [NIH, em inglês]. O orçamento do NIH gira em torno de 30 bilhões de dólares por ano. Mais ou menos a metade disso é entregue a pesquisadores que realizam experimentos com animais. Eles têm centenas de comitês e cada comitê decide para onde vai o dinheiro. Nos últimos 40 anos, 50% desse dinheiro vai, anualmente, para pesquisa com animais. Isso acontece porque as próprias pessoas que decidem para onde o dinheiro vai, os cientistas que formam esses comitês, realizam pesquisas com animais. O que temos é um sistema muito corrupto que está preocupado em garantir o dinheiro de pesquisadores versus um sistema que está preocupado em encontrar curas para doenças e novos remédios.

Onde estaria a medicina se não fosse a pesquisa com animais?
No mesmo lugar em que ela está hoje. A maioria das drogas é descoberta utilizando computadores ou por meio da natureza. As drogas não são descobertas utilizando animais. Elas são testadas em animais depois que são descobertas. Essas drogas deveriam ser testadas em computadores, depois em tecido humano e daí sim, em seres humanos. Empresas farmacêuticas já admitiram que essa será a forma de testar remédios no futuro. Algumas empresas já admitiram inúmeras vezes em literatura científica que os animais não são preditivos para humanos. E essas empresas já perderam muito dinheiro porque cancelaram o desenvolvimento de remédios por causa de efeitos adversos em animais e que não necessariamente ocorreriam em seres humanos. Foram bilhões de dólares perdidos ao não desenvolver drogas que poderiam ter dado certo.

Como as pesquisas deveriam ser conduzidas?
Deveríamos estar fazendo pesquisa baseada em humanos. E com isso eu quero dizer pesquisas baseadas em tecidos e genes humanos. É daí que os grandes avanços da medicina estão vindo. Por exemplo, o Projeto Genoma, que foi concluído há 10 anos, possibilitou que muitos pesquisadores descobrissem o que genes específicos no corpo humano fazem. E agora, existem cerca de 10 drogas que não são receitadas antes que se saiba o perfil genético do paciente. É assim que a medicina deveria ser praticada.  Nesse momento, tratamos todos os seres humanos como se fossem idênticos, mas eles não são. Uma droga que poderia me matar pode te ajudar. Desse modo, as diferenças não são grandes apenas entre espécies, mas também entre os humanos. Então, a única maneira de termos um suprimento seguro e eficiente de remédios é testar as drogas e desenvolvê-las baseados na composição genética de indivíduos humanos. Para se ter uma ideia, a modelagem animal corresponde a apenas 1% de todos os testes e métodos que existem. Ou seja, ela é um pedaço insignificante do todo. O estudo dos genes humanos é uma alternativa. Quando fazemos isso, estamos olhando para grandes populações de pessoas. Por exemplo, você analisa 10.000 pessoas e 100 delas sofreram de ataque cardíaco. A partir daí analisamos as diferenças entre os genes dos dois grupos e é assim que você descobre quais genes estão ligados às doenças do coração. E isso está sendo feito, porém, não o bastante. Há também a pesquisa in vitro com tecido humano. Virtualmente tudo que sabemos sobre HIV aprendemos estudando tecido de pessoas que tiveram a doença e por meio de autópsias de pacientes. A modelagem computacional de doenças e drogas é outra saída. Se quisermos saber quais efeitos uma droga terá, podemos desenvolvê-la no computador e simular a interação com a célula.

Mas ainda não temos informações suficientes para simular o corpo humano no computador...
Temos sim. Não temos informações suficientes para criar 100% do corpo humano e isso não vai acontecer nos próximos 100 anos. Mas não precisamos de toda essa informação. O que precisamos é saber como e do que um receptor celular é constituído — isso já sabemos — e a partir daí podemos desenvolver, no computador, remédios baseados nas leis da química que se encaixem nesses receptores. Depois disso, a droga é testada em tecido humano e depois em seres humanos. Antes disso acontecer, contudo, muitos testes são feitos in vitro e em tecidos humanos até chegar em um voluntário humano.

Um computador não é um sistema vivo completo. Como é possível garantir que essa droga, que nunca foi testada em animais, não será nociva aos seres humanos?
A falácia nesse argumento é que os macacos e camundongos, por exemplo, são seres vivos, mas não são seres humanos intactos. E esse argumento seria muito bom, se ele não fosse tão ruim. Drogas são testadas em macacos e camundongos intactos por quase 100 anos e não há valor preditivo no sentido de dizer quais serão os efeitos da droga no ser humano. O que essas pesquisas têm feito, na verdade, é verificar o que essas drogas causam em macacos e em seres humanos separadamente e não há relação. Por isso, o que dizem é meramente retórico, não há nenhuma base científica.

O senhor já fez experimentos com animais. O que o fez mudar de ideia?
Meu posicionamento mudou apenas uma década depois que terminei a faculdade de medicina. Minha esposa é veterinária e comecei a notar como tratávamos nossos pacientes de maneira muito diferente. Comecei a notar também que alguns remédios funcionam muito bem em animais, mas não funcionam em humanos e algumas drogas funcionam em humanos, mas não podem ser usadas em cães, mas podem ser usadas em gatos e assim por diante. Não estou dizendo que os animais e os humanos são exatamente opostos, não é isso. Eles têm muito em comum.

A semelhança genética de 90% entre humanos e camundongos não é suficiente? 
Aparentemente não. Porque os dados científicos dizem que não. Não me interessa se somos suficientemente semelhantes aos animais para fazer testes neles ou não. A minha interpretação é científica. E a ciência diz que não somos. Na minha experiência clínica isso é verdade porque não conseguimos prever nem quais serão os efeitos de um remédio no seu irmão, realizando testes em você. Algumas drogas que você pode tomar, seu irmão não pode, por exemplo. Contudo, eu não sou contra todo tipo de experimento com animais. É possível recorrer aos animais para utilização de algumas partes. Por exemplo, podemos utilizar a válvula cardíaca de um porco para substituir a de seres humanos. Além disso, é possível cultivar vírus, insulina, mas isso não é pesquisa. O fracasso está em utilizar modelos animais para prever o que irá acontecer com um ser humano. Um ótimo exemplo disso é a Aids. Os animais não desenvolvem essa doença, de jeito nenhum. Eles sofrem de doenças parecidas com a Aids, mas por causa de vírus completamente diferentes. E os sintomas são muito diferentes dos manifestados em pacientes aidéticos. Por isso, não há correlação.

O senhor é contra o eventual sacrifício de animais em pesquisas científicas com o objetivo de salvar milhões de vidas humanas? 
Eu não tenho nenhum problema com isso. Meu problema com pesquisa animal não é de cunho ético e sim, científico. É como dizer que estamos em um cruzeiro atravessando o oceano Atlântico e um indivíduo cai na água e está se afogando. Ele precisa é de um salva-vidas mas não temos nenhum, então vamos arremessar 1.000 cães na água. Por que arremessar os cães na água já que eles não vão salvar a vida da pessoa? Você pode construir um argumento ético dizendo que é aceitável afogar esses cães mas o que eu quero dizer é que a pessoa precisa de um salva-vidas e não 1.000 cães afogados. E é exatamente isso que estamos fazendo com a pesquisa animal. Estamos matando cães pelo bem de matar cães. Não porque matá-los irá trazer a cura para doenças como a Aids ou o Alzheimer.

Fonte: Matéria especial da Revista Veja, publicada no dia 16/10/2013.

PIT BULLS: OS CÃES-BABÁS


Você teria coragem de deixar seu filho com um Pit Bull?
Provavelmente muita gente respondeu "Não!", porém, você sabia que houve um tempo em que o Pit Bull carregava a fama de "Nanny Dog" (Cão-babá)?





Houve uma época em que esses cães eram considerados não só símbolo de confiança, lealdade e estabilidade, mas também, pasmem, como cães perfeitos para as famílias, em especial para serem companhia das crianças. Esse temperamento dócil, há 150 anos, foi responsável pela alcunha de “cão-babá”.
Durante o final do século XIX até o fim da Segunda Guerra Mundial, quando uma família decidia ter um cachorro, um dos principais candidatos era o Pit Bull. Em todos os testes pelos quais passaram, foram considerados extremamente dóceis, principalmente com as crianças, e péssimos cães para guardar a casa, devido sua amizade inclusive com os desconhecidos.
Dessa forma, durante os primeiros anos do século XX, os Pit Bulls eram considerados uma raça especialmente não agressiva com as pessoas, uma ótima companhia. Porém, de onde veio essa imagem do cachorro extremamente agressivo que é difundida especialmente nos dias atuais?
Quando o Pit Bull foi criado, através de uma mistura de outras raças como os  Bulldogs e Terriers, surgiu um cão de compleição forte voltado para a caça de grandes animais (como Javali) . Entretanto, desde o início, por ser muito forte, ele também foi usado em esportes que, mais tarde, foram considerados extremamente cruéis. Muitas vezes os Pit Bulls eram colocados em situações tensas, como quando eram jogados em um buraco repleto de ratos para que lutassem pela vida, outras vezes para lutarem contra touros, ou, mais conhecidamente, serviam como cães de luta nas famosas rinhas por serem bastante fortes.
Apesar dessas e outras práticas ocorrerem, os Pit Bulls ainda eram visto pela sua natureza dócil; tanto era assim que durante as duas Grandes Guerras, além de serem o símbolo escolhido para representar a nação norte-americana, serviam como cães mensageiros. Finalmente durante os anos 80, após uma campanha publicitária apresentar o cão como “badass”, pessoas irresponsáveis que queriam adquirir um cão para rinhas, um cão de combate, ou mesmo para enfrentar gangues, começaram a investir nos Pit Bulls. Marketing deturpado e estrutura física forte contribuíram para o destino de um cão que outrora era conhecido como “Nanny Dog” (cão-babá).
A partir de então, a imagem violenta do Pit Bull começou a ser feita. Estudos realizados constataram que os cães responsáveis pelos ataques noticiados tiveram algum grau de treinamento voltado para a violência e para o ataque, demonstrando que a culpa era do proprietário, não sendo um atributo da raça o comportamento agressivo. Ainda assim, de fato existem animais que tem um comportamento violento natural, uma vez que foram criados, através de cruzamentos específicos, para assim serem.
Contudo, o que muita gente não sabe é que, aqueles que adquiriram a raça para guardar a casa, sem conhecerem o temperamento real do cão, começaram a abandonar em massa seus animais, uma vez que, desde sempre, são considerados péssimos cães de guarda por socializarem inclusive com estranhos. Aliado a esse cenário de desinformação, os animais abandonados sofrem toda sorte de violência. A própria violência sofrida, seja pelos proprietários ou pelas pessoas que desconhecem sua natureza e espancam o cachorro na rua, leva ao comportamento agressivo, muitas vezes para a própria proteção.

Fonte: Matéria publicada pelo site "Imagens Históricas" em outubro de 2013. 

CÃES TÊM SENTIMENTOS


Cachorros têm sentimentos, defende Gregory Berns, professor de neuroeconomia da Universidade de Emory, nos Estados Unidos. Em artigo publicado no último sábado no jornal New York Times, ele afirma: cachorros são pessoas. Para chegar a esta conclusão, o pesquisador analisou dezenas de cães num aparelho de ressonância magnética. Os exames foram feitos com os animais completamente acordados, e não anestesiados. Para isto, foi necessário muito treinamento com adestradores, um esforço que permitiu mapear pela primeira vez as reações cerebrais dos cachorros a estímulos.
Usando a ressonância magnética para analisar a estrutura cerebral dos cachorros, não podemos mais esconder a evidência. Cães, e provavelmente muitos outros animais (especialmente os primatas, nossos parentes mais próximos), parecem ter emoções como nós, defendeu o especialista no artigo, no qual disse esperar que as pessoas deixem de tratar os bichos como se fossem objetos.
Foram pelo menos dois anos treinando cachorros para que os exames pudessem ser realizados. A primeira voluntária foi Callie, cadela de Berns. Treinada com a ajuda do adestrador Mark Spivak, e ensinada a entrar numa réplica do aparelho de ressonância magnética que o pesquisador construiu em casa. Ela não apenas aprendeu a ficar parada no local exato como teve que se adaptar aos protetores de ouvido, em razão da audição sensível aos 95 decibéis de ruído que o aparelho de verdade faz.
Depois de meses de treinamento e algumas tentativas num aparelho de ressonância de verdade, os pesquisadores conseguiram produzir os primeiros mapas da atividade cerebral de Callie. Além de medir as respostas do cérebro dela a estímulos, foi possível mapear as partes do cérebro que distinguem aromas familiares e não familiares.
Com o sucesso, novos voluntários aderiram ao trabalho. Em menos de um ano já havia uma dúzia de cães aptos aos exames de ressonância. Todos foram tratados como pessoas. Os cientistas enfatizaram que a participação do cão era voluntária e que, a qualquer momento, ele teria o direito de abandonar o estudo. Por fim, o compromisso era de que não haveria nenhuma sedação.
Os estudos, que ainda estão no início, indicam que há semelhanças entre cachorros e pessoas nas estruturas de funcionamento do chamado núcleo caudado, uma região relacionada aos mecanismos de recompensa. Nos cães, a atividade nesta parte do cérebro também ficou ativa quando o dono do animal reapareceu. Isto está sendo interpretado como um indicativo de que os animais amariam seus donos.
A capacidade de experimentar emoções positivas, como o amor e o apego, significaria que os cães têm um nível de sensibilidade comparável a de uma criança humana. E essa capacidade sugere que devemos repensar a forma como tratamos os cães, defendeu Berns.
O especialista vem criticando a forma como alguns animais são tratados. E reclama que as leis permitem que eles sejam tratados como coisas que podem ser descartadas, desde que o devido cuidado seja tomado para minimizar o seu sofrimento.
Suspeito que a sociedade esteja muitos anos longe de considerar os cães como pessoas, lamentou o cientista.

Fonte: Jornal O GLOBO. Matéria publicada no dia 07/10/2013

RAIVA




Certo dia, o sujeito acorda se sentindo estranho. Tem um pouco de febre, uma dor de cabeça, talvez uma falta de apetite. Pode ser qualquer coisa. Passados uns dias, uma súbita ansiedade toma o doente. Dores pelo corpo e convulsões. A febre aumenta, e ele se torna agressivo. É quando aparece o sintoma inconfundível: um pavor incompreensível de água. É a hidrofobia. Não pode nem ficar perto de um copo d´água que o terror o domina. A essa altura, a garganta sofre espasmos e a pessoa emite gritos que mais parecem ganidos e uivos. Não há mais dúvidas, é a raiva. Quando os sintomas chegam a esse ponto, nada mais pode ser feito: em poucos dias, a morte - dolorosa, agonizante - é certa, em quase 100% dos casos.

Se a descrição acima parece história de terror, é porque ela realmente é. A raiva tem sintomas tão assustadores porque mata de forma diferente da maioria das doenças neurológicas, que costumam destruir os neurônios. O lyssavirus (que vem do grego lykos: lobo) atinge os neurotransmissores, a comunicação do sistema nervoso. Depois da contaminação, caminha cerca de 1 cm por dia da ferida em direção ao cérebro e lá, por meio de um mecanismo chamado excitotoxicidade, faz com que as células nervosas gastem toda a sua energia e morram de exaustão. Aos poucos, as funções automáticas param de funcionar, e a morte acontece por parada cardíaca ou respiratória. História de terror das piores.


Por muitos séculos, a raiva foi a única doença visivelmente transmitida por animais - sempre mamíferos (principalmente cachorros e morcegos) e sempre por mordidas. "O vírus da raiva evoluiu para viver no cachorro, e o cachorro evoluiu para coexistir com o homem. Isso fez com que a doença se espalhasse", escrevem Bill Wasik e Monica Murphy em Rabid: A Cultural History of the Worlds Most Diabolical Virus ("Raiva: uma história cultural do vírus mais diabólico do mundo"). Hoje, a raiva está controlada: são 55 mil casos em humanos ao ano, de acordo com a OMS, quase todos na Ásia e África. Mesmo no Brasil, a doença é raríssima: no ano passado, foram apenas cinco casos. Tudo graças à vacina. "Hoje o principal risco é o contato com animais silvestres, que aumentou por causa do ecoturismo", diz Jarbas Barbosa, secretário nacional de Vigilância em Saúde.

Os mistérios sobrenaturais que envolviam a doença só foram dissipados quando uma celebridade do mundo científico voltou suas atenções para ela: Louis Pasteur. Ele pesquisou a raiva justamente porque se tratava da "mais assustadora e mortal das doenças". Sua vacina consistia em 21 dolorosas injeções na barriga, que continham cada vez uma versão mais enfraquecida do lyssavirus. O método de Pasteur foi aperfeiçoado e é usado até hoje: atualmente bastam quatro vacinas no braço. Foi essa simples solução que praticamente eliminou a doença.

Por isso, quando o pediatra Rodney Willoughby recebeu uma ligação em seu consultório em Milwaukee, nos EUA, informando-o de que iria receber uma paciente com os sintomas de raiva, ele não acreditou. Afinal, apesar de seus mais de 20 anos de experiência, só conhecia casos da doença pelos livros. Mas os exames realizados na paciente, uma adolescente de 15 anos chamada Jeanna Giese, confirmaram: era mesmo raiva.

Quatro semanas antes, Jeanna estava na igreja de sua comunidade, quando um morcego invadiu a capela e a mordeu. Ela sequer sentiu. Quando os sintomas apareceram, já era tarde. A vacina é eficiente em quase todos os casos, mas apenas se tomada nos primeiros dias após a infecção. Se o vírus da raiva atingir o cérebro antes, o índice de fatalidade é praticamente 100%. O dr. Willoughby sabia que o procedimento normal nesses casos era sedar o paciente e esperar a morte. Mas ele não se conformou a isso.

O médico também sabia que o corpo reage naturalmente ao vírus da raiva. O problema é que ele engana o nosso sistema imunológico. A maioria das doenças avança pela corrente sanguínea: é o caminho mais rápido, e também mais protegido pelo sistema imunológico. Mas o lyssavirus se espalha pelos neurotransmissores e, assim, chega ao cérebro antes das nossas defesas naturais. Foi então que o dr. Willoughby teve uma ideia. Vencer o vírus da raiva pela paciência: era preciso dar ao organismo tempo para ele organizar suas defesas. O plano nunca havia sido testado, mas a ideia consistia em induzir a menina ao coma, baixando as funções corporais e cerebrais ao mínimo possível. Assim, seu corpo poderia se preocupar com uma só coisa: gerar defesas. A equipe usou quetamina, um poderoso anestésico e alucinógeno, com a retrovirais e sedativos barbitúricos.

Para surpresa de todos, a estratégia deu certo. Quando saiu do hospital, no dia 1º de janeiro de 2005, Jeanna estava completamente curada. A notícia do primeiro registro de cura da raiva se espalhou pelo mundo. A equipe responsável elaborou um roteiro de atendimento que foi batizado de protocolo de Milwaukee. Desde então, cinco pessoas no mundo já foram curadas com procedimentos semelhantes - uma delas no Brasil.

O caso brasileiro aconteceu em 2008, quando o adolescente Marciano Menezes da Silva foi diagnosticado depois de ser mordido por um morcego na cidade de Floresta, no sertão de Pernambuco. O rapaz foi levado ao Recife e os médicos notaram os sintomas já desenvolvidos. "Tínhamos contato com o dr. Rodney, que fala português e é casado com uma pernambucana, e decidimos aplicar o protocolo de Milwaukee. Era a nossa melhor chance", explica o médico Vicente Vaz, infectologista que integrou a equipe que cuidou de Marciano. De fato, foi. O rapaz sobreviveu e se tornou o terceiro caso documentado de cura.


Nos animais isso repercute de forma diferente. Nenhum tratamento deverá ser tentado. Sobretudo não há registros de tentativas de tratamentos em contaminados.

Se o animal exposto ao vírus não é vacinado; em se tratando de animais abandonados, recomenda-se proceder a eutanásia, para coleta de material para diagnóstico laboratorial. Uma alternativa seria manter o animal suspeito sob quarentena de 6 meses, o que nem sempre é viável.
Se o animal exposto, tiver um proprietário e for anteriormente vacinado, recomenda-se o seu isolamento para observação clínica por 10 dias, após o que deverá ser revacinado.

Ou seja, a vacina contra a raiva é de extrema importância para garantia de sanidade do animal e consequentemente a nossa. Estudos contra a cura da raiva estão em aprimoramentos constantes, inclusive, a possibilidade destes serem aplicados a nossos queridos animais. No entanto, não há atalhos ou métodos que garantam melhor segurança quanto a este mal, a não ser: VACINAÇÃO.

As vacinas induzem altos títulos de anticorpos neutralizantes, aproximadamente entre 7 e 21 dias após a vacinação.  A primeira vacina contra raiva é recomendada para cães e gatos a partir do quarto mês de vida. Para obtermos uma imunidade máxima é recomendável a adoção do esquema com revacinações anuais pelo médico veterinário. 






SOBRE OS MORCEGOS


São os únicos mamíferos que voam, e saem a procura de alimentos ao entardecer e a noite. Vivem em média quinze anos e, a partir de dois anos, têm início a vida reprodutiva, com um período de gestação de dois a sete meses, de acordo com a espécie, gerando normalmente um filhote ao ano.

São os únicos mamíferos que voam, e saem a procura de alimentos ao entardecer e a noite. Vivem em média quinze anos e, a partir de dois anos, têm início a vida reprodutiva, com um período de gestação de dois a sete meses, de acordo com a espécie, gerando normalmente um filhote ao ano.


Desempenham papel importante na natureza: dispersão de sementes, polinização de flores e controle de população de animais, principalmente insetos.


Há mais de 1500 espécies e apenas 3 são hematófagas, alimentando-se exclusivamente de sangue e apenas uma, o Desmodus rotundus, tem preferência por sangue de mamíferos. Hábitos alimentares: a maioria se alimenta de insetos. Outras de frutos, néctar, polen, folhas, carnes, etc.


Nas cidades, os morcegos mais comuns são os insetívoros e os frugívoros, devido a grande oferta de alimentos e a presença de abrigos. Os abrigos mais utilizados pelos insetívoros são as edificações. A falta de conservação, falhas de construção e até detalhes arquitetônicos criados para embelezamento, acabam constituindo verdadeiras cavernas artificiais para alojá-los.


Dicas para evitar Incômodos e Acidentes:

- Verifique os espaços abertos de entrada e saída no abrigo.- Verifique os espaços abertos de entrada e saída no abrigo.- Após a saída dos animais ao anoitecer vede esse ponto provisoriamente (jornais amassados ou panos).- No dia seguinte, antes de escurecer, retire esta vedação para a saída dos animais que tenham eventualmente permanecido no abrigo, e feche novamente após a saída destes.- Faça esse procedimento durante 3 dias e então faça a vedação definitiva. 

Nunca utilize venenos para desalojá-los. São animais silvestres protegidos por legislação ambiental.


Não toque em qualquer morcego, vivo ou morto. Em caso de contato procure a Secretaria de Saúde e informe.


São associados erroneamente a símbolos de terror, demônios, vampiros, mistério e antigas crenças. Não são "ratos velhos que criaram asas".

Caso se constate a presença de morcegos em edificações, procure orientação especializada e proceda da seguinte maneira:
- Feche esses espaços, deixando apenas uma saída.

Se um morcego adentrar sua residência, feche as portas que dão acesso as outras dependências da casa, deixem as janelas abertas para o animal tentar sair ou chame o Centro de Controle de Zoonoses, para realizar a captura.

SECRETARIA DE SAÚDE / 
CENTRO DE CONTROLE DE ZOONOSES DE MARINGÁ:
(44)3218-3136 / (44)3901-1176 


Fonte: "O Vírus da Raiva" matéria da revista Super Interessante junho 2013. Instruções publicas da Secretaria de Saúde